dimanche 12 février 2012

Edite Estrela no Facebook... e aminha modesta opinião

Edite Estrela :
Como o Acordo Ortográfico está na ordem do dia e vários amigos me têm manifestado interesse em conhecer a minha opinião, decidi transcrever a resposta que hoje dei a Imelda Borges (disponível no meu perfil):Sou a favor do acordo ortográfico, porque simplifica e moderniza a ortografia do português (o que facilita a sua aprendizagem) e porque acaba com a singularidade de termos a única língua com dupla ortografia.A nova ortografia favorece a pro...moção internacional da língua portuguesa. A abolição das consoantes mudas não interfere com a pronúncia das palavras. Repare que escrevemos colação e pronunciamos o a aberto [á], porque havemos de precisar de escrever colecção para pronunciarmos o e aberto [é]? E embora se escreva do mesmo modo (pregar)pronunciamos a vogal [é] se for "pregar um sermão", mas pronunciamos [e] se for "pregar um prego". Transcrevo o que escrevemos na introdução do nosso livro "Saber usar a nova ortografia": "Em Portugal, o tema da ortografia foi sempre polémico. Mal se fala em mudar acento ou consoante, um hífen que seja, começa meio mundo a protestar, em defesa da conservação, e outro meio a bater-se pela alteração. A querela ortográfica não é de ontem nem de hoje. A ortografia não é um território de consenso fácil. As mudanças ortográficas interferem com os hábitos de escrita de cada falante, mexem com automatismos adquiridos em anos de prática e perturbam as rotinas. Acresce que o falante tem uma vinculação afetiva muito forte com a sua língua materna, entendida como um bem precioso que a todos diz respeito.
A língua portuguesa é a única das línguas mais faladas no mundo que não tem uma norma ortográfica comum a todas as suas variantes nacionais.
A aproximação ortográfica não interfere com a coexistência e legitimidade de várias normas linguísticas regionais, nem condiciona outros domínios, como, por exemplo, a ortoépia e a prosódia. Escrever do mesmo modo não significa igualizar a pronúncia. Mesmo no território estritamente português, as palavras não são uniformemente pronunciadas. É natural que periodicamente se ajuste, simplifique e actualize a escrita das palavras. Por outro lado, a língua portuguesa só beneficiará se existir um código ortográfico válido para todo o espaço lusófono.
Qualquer ortografia é um sistema convencional que representa a língua. Umas vezes prevalece a representação fonética e, noutras, a representação histórica. Mas a ortografia não interfere com a essência da língua: não condiciona a fonologia, nem a morfologia, nem a sintaxe. A ortografia não é mais do que a aparência da língua, a sua pele. De modo que a questão ortográfica existe desde que se sentiu a necessidade de fixar critérios e codificar a escrita, sendo certo que nenhum sistema gráfico pode ser perfeito ou definitivo.
Ao longo dos séculos, muitos foram os que realçaram a necessidade de regras, revistas periodicamente, no sentido da simplificação e da modernização da escrita. Já em 1536, Fernão de Oliveira, o primeiro gramático português, alertava para a necessidade de novos sinais gráficos para representar as vogais "grandes" (abertas) das vogais "pequenas" (fechadas). Outros gramáticos, como Duarte Nunes de Lião e João de Barros, dedicaram especial atenção aos problemas ortográficos, como bem salientou a autora de "Dois ortografistas do sec. XVI". Maria Leonor Carvalhão Buescu destaca a "polémica gramatical" associada à ortografia, em que "as opiniões divergem parcialmente e parcialmente se encontram", considerando, no entanto, que há "como que uma unanimidade entre os ortografistas: a melhor grafia é aquela que se aproxima da pronúncia".
Vão nesse sentido as alterações do novo acordo ortográfico".
Aurelio Pinto: Camarada, quanto mais se tenta justificar o injustificacavel menos se convence. Este acordo é uma treta!
Abraço de Paris.
Nota : Juntei o artigo do Jornal de Angola de 08 de Fevereiro, 2012

Edite Estrela

No meu perfil, respondi a Aurelio Pinto a propósito do editorial do Jornal de Angola, publicado no passado dia 8 de fevereiro, intitulado
"Património em risco".Caro Aurélio Pinto, o editorial mereceria um comentário mais desenvolvido não adequado a este formato, porque contém afirmações que subscrevo, mas também tem outras de que discordo. Confunde ortografia (a aparência da Língua) com a sua essência (a morfologia, a sintaxe...). Tem implícito o pressuposto de que a ortografia da língua portuguesa se tem mantido imutável ao longo dos séculos, o que não é verdade. Eça não escrevia como Camões e eu já não escrevi como os meus avós. Na década de 70, houve um pequeno acordo ortográfico entre Portugal e o Brasil que conduziu à abolição dos acentos dos advérbios terminados em -mente (praticamente) e das palavaras terminadas em -zinho (sozinho, cafezinho, Zezinho). Pode-se discordar de algumas opções deste acordo, mas com argumentos científicos, mas não com pseudoargumentos. Recordo que o AO foi assinado em 1990 pelos representantes dos governos de todos os países lusófonos, incluindo o de Angola, países que é susposto honrarem os acordos internacionais. Acresce que os responsáveis angolanos até são do mesmo partido e têm o mesmo Presidente da República. Por último, uma precisão: a língua portuguesa é a língua materna de portugueses e brasileiros, sendo a língua oficial dos restantes países lusófonos.
O que faz alguma diferença.

Aurelio Pinto:
Pois...