mardi 29 novembre 2011

Em Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro

Exmos. Senhores

Para divulgação, remeto, em ficheiro anexo, o texto da tomada de posição pública

do Colectivo para a Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro recentemente

constituído em França.

Este documento foi já enviado ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, ao Secretário

de Estado das Comunidades Portuguesas, à Presidente do Instituto Camões e

a todos os Grupos Parlamentares da Assembleia da República.

Em reunião, realizada recentemente, o mesmo Colectivo decidiu promover um

abaixo-assinado, que será posto a circular no início da semana.

Entretanto, uma delegação do Colectivo para a Defesa do Ensino do Português

no Estrangeiro será recebida pelo Embaixador de Portugal em França, Dr. Seixas

da Costa, na próxima terça-feira, dia 29 de Novembro, às 17,30 horas.

Certo da melhor atenção, apresento os meus melhores cumprimentos.

Raul Lopes

Membro do Colectivo para a Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro

Presidente da Associação Portuguesa Cultural e Social de Garches



Em Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro

1. O Colectivo para a Defesa do Ensino do Português

no Estrangeiro, reunido a 24 de Novembro em

Paris, considera que as medidas levadas a cabo

pelo Governo de Portugal visam a eliminação de um

direito inalienável do cidadão português residente

no estrangeiro: o direito à aprendizagem da

língua portuguesa.

Este mesmo Colectivo promete fazer tudo o que está ao seu alcance, no sentido de

mobilizar a Comunidade Portuguesa presente em França (pais, alunos e professores)

para que, unidos e solidários, lutemos pelo direito que nos é atribuído pela

Constituição: o direito a aprender o nosso próprio idioma.

2. Esse direito, previsto na Constituição da República (artigo 74º: Assegurar aos

filhos dos emigrantes o ensino da língua portuguesa e o acesso à cultura portuguesa)

tem sido constantemente desrespeitado. Devido a esta política preconceituosa,

o cidadão português residente no estrangeiro vê-se secundarizado e descriminado,

pois o Estado português não cumpre o seu dever e missão. Não há portugueses de

primeira (os que vivem em Portugal) e portugueses de segunda (os que vivem no

estrangeiro). Somos todos portugueses.

3. Assim, a “reestruturação total da rede de ensino do português no estrangeiro”

que o Governo pretende levar a cabo até ao final de 2011 é:

INCONSTITUCIONAL, LESA-CULTURA E LESA PÁTRIA.

4. O Governo decidiu suspender, a partir de Janeiro 2012, a comissão de

serviço a 50 professores na Europa (20 em França). As aulas serão, assim,

abruptamente interrompidas a meio do ano lectivo, deixando sem aulas cerca de

5000 alunos. Esta decisão, se não fosse trágica, seria, no mínimo, cómica, tal é o

irrealismo e a falta de respeito demonstrada pelo Ministério dos Negócios

Estrangeiros. O Governo ameaça com novos despedimentos para o verão.

5. O Governo, a efectuarás esta “reestruturação”, prova de uma vez por todas

não estar à altura do pendor universal e universalista da língua e cultura portuguesas.

A língua portuguesa (a quinta língua mais falada no mundo) não se coaduna

com as mesquinhas e ridículas perspectivas economicistas desenvolvidas por

políticos sem visão de futuro. A língua e a cultura portuguesas são a principal

mais-valia de Portugal e não têm preço.

6. No caso da França, existem já organismos oficiais franceses que se mostraram

chocados e escandalizados com estas medidas do Governo português. As

autoridades francesas mostram-se mais preocupadas com o futuro da língua

portuguesa do que o Governo de Portugal.

7. O “ensino do português como língua materna” deverá sobrepor-se ao “ensino

do português como língua estrangeira”. O ensino da língua portuguesa deverá

estar em pé de igualdade com o ensino da língua oficial do país de residência.

Os nossos filhos deverão ter a oportunidade de falar, pensar e sentir em português.

8. O Ensino do Português no Estrangeiro é o principal vínculo que liga os

lusodescendentes a Portugal. Sem o EPE, Portugal perderá esse pilar e

mocional, ficando, obviamente, ainda mais pobre. Numa perspectiva economicista,

tão cara aos tecnocratas que lideram Portugal, podemos referir que os emigrantes

portugueses enviam para Portugal remessas no valor de dois mil milhões de euros

por ano. Esse filão poderá terminar.

9. O Colectivo para a Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro apela à

mobilização de todos os portugueses contra a “reestruturação” do Ensino do

Português no Estrangeiro. Uma “reestruturação” inconstitucional que ataca as

comunidades e, acima de tudo, a sobrevivência da língua portuguesa no seio

dos milhões de lusodescendentes que existem na Europa e no mundo.

Puteaux, 24 de Novembro de 2011

Os membros do Colectivo para a Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro

Ana Silva, professora do EPE

Ana Vicente, professora do EPE

António Fonseca, vice-presidente do Conselho Permanente do CCP

Helena Neves, presidente da ACFPI de Viroflay

Isabelle Gonçalves, presidente da ACP de Courbevoie-La Garenne

Jaime Alves, vice-presidente da AFP do Puteaux

José Afonso, presidente da AFP do Puteaux

José Azevedo, professor do EPE

José Cardina, presidente da CCPF

Júlio Frederico, vice-presidente da Filarmónica de Paris

Kathy de Azevedo, membro da direcção da AFP do Puteaux

Manuel Brito, presidente da ARCOP de Nanterre

Nuno Gomes Garcia, arqueólogo e escritor

Parcídio Peixoto, membro do CCP

Raul Lopes, presidente da APCS Garches

Comentário:

Acabo de ler no "Horizonte Português" aquele manifesto do "Coletivo...": estou de acordo com tudo, menos com o facto de já estarem a aplicar o AO!... Perdem logo metade da credibilidade, pelo menos, ao aceitar em de maneira seguidista e acrítica esta vandalização da língua que dizem pretender defender... Ainda não perceberam que é justamente esta onda de promoção da "internacionalização" da língua portuguesa (entenda-se, na versão do Brasil...), cujo instrumento privilegiado é o AO, que subalterniza a língua materna dos portugueses, os de cá e os de fora?! Na óptica destes iluminados, 15 milhões de portugueses não contam, face aos quase 200 milhões de brasileiros (mesmo que uma boa parte seja praticamente analfabeta e pouco fale português...). E também ainda não perceberam que esta gente que nos governa "despreza" os emigrantes?!...

MJ Abranches