Para:
Sindicato dos Professores da Zona Sul FENPROF
Ex.mos Senhores,
Recebi há pouco, pelo telemóvel, uma mensagem convocando-me para um plenário que terá lugar amanhã em Faro, com o Secretário Geral da FENPROF, para tratar de “especificidades do ensino”, se não estou em erro. Já apaguei a mensagem e não me é possível verificar se eram estes exactamente os termos. Como não posso conceber que se fale do ensino em Portugal, sem discutir e pôr em causa a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, que está a decorrer desde o início deste ano lectivo, decidi aproveitar a ocasião para rever a minha já longa luta junto do Sindicato de que sou sócia (SPZS, n.º 643), no sentido de levar os professores a assumir as suas responsabilidades na matéria.Desde 14 de Maio de 2008, venho repetidamente alertando o sindicato, que me representa, para a necessidade “urgente” de os professores tomarem consciência do teor e implicações gravíssimas que o Acordo Ortográfico de 1990 tem para a nossa língua. Na data referida enviei inclusivamente um pequeno estudo que tinha então elaborado, e que intitulei “O Novo Acordo Ortográfico — Contributo para uma reflexão necessária”.
Voltei de novo a apelar ao sentido de responsabilidade dos professores a 31 de Março de 2011 (“Apelo aos Professores do meu país: recusem o Acordo Ortográfico!”), por ocasião da projectada — para 2 de Abril — Marcha Nacional pela Educação, que finalmente não se realizou.
A 27 de Maio de 2011, seguiu nova mensagem, acompanhada de um texto em anexo, “Errar de novo, irreparavelmente”.
A 26 de Agosto de 2011, escrevi outra vez, juntando a carta aberta que entretanto enviara ao novo Governo (vd. anexo aqui). Transcrevo a seguir extractos do que então disse, pois essa mensagem continua válida, agora ainda com mais pertinência, porque os estragos são cada vez mais visíveis e a “desalfabetização” dos portugueses prossegue a bom ritmo, com o empenho, pelo menos oficial e visível, dos professores e de quem os representa:
“Dando continuidade à já longa luta que venho travando contra o Acordo Ortográfico de 1990, e de que já dei conhecimento por várias vezes à FENPROF, segue em anexo a carta que escrevi ao Governo a este respeito. Esta carta foi entretanto publicada no sítio da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (http://www.ilcao.cedilha.net) (à).
Porque, apesar de aposentada, é como professora que me reconheço socialmente, e mais ainda como professora de Português, não posso admitir que o maior atentado alguma vez perpetrado contra a nossa língua seja silenciado por portugueses e profissionais que nela têm o seu principal instrumento de trabalho! Procurei, na carta ao Governo, salientar alguns aspectos do funcionamento do Ministério da Educação, nesta matéria, que me parecem de legalidade duvidosa. A nossa responsabilidade para com os futuros cidadãos portugueses, inclusivamente no que toca ao conhecimento, apreço, respeito, salvaguarda e prestígio do nosso património cultural e identitário, não se compadece com o silêncio, a passividade e a sujeição de que vimos dando provas. Como podem os professores fomentar o espírito crítico nos jovens, se dele abdicam totalmente naquilo que é o seu domínio de actividade prioritário?
Por mim, continuarei a denunciar este Acordo, que a comunidade científica já amplamente condenou, sem que os políticos se dignem ouvi-la: está mal concebido, não é necessário, não uniformiza nada (até aumenta as duplas grafias), não corresponde a nenhuma evolução da nossa língua (português de Portugal), terá fatalmente implicações na nossa pronúncia, retira inteligibilidade à nossa língua, instaura a maior confusão ortográfica entre nós, desautoriza de vez a própria noção de “ortografia”, traz gastos consideráveis em termos de edição e publicação de tudo o que passe pela escrita, inclusivamente no universo dos pequenos e médios comerciantes e industriais, revolta a maioria dos portugueses que sentem esta imposição como um ultraje e uma submissão inaceitável às opções ortográficas brasileiras (mas os políticos, partidos, governos, P.R., A. R….não os querem ouvir!…) e … , abreviando, é UMA VERGONHA, do ponto de vista nacional e internacional! (à)”
A 12 de Outubro de 2011 escrevi de novo, a propósito da ortografia adoptada no “Jornal da FENPROF”, n.º 253, Setembro 2011. Sobre o mesmo assunto escrevi ainda a 16 de Novembro de 2011, agora a propósito do “Jornal da FENPROF” n.º 254, de Outubro 2011.
No dia 6 de Dezembro de 2011, nova mensagem, tendo em anexo o texto “Ensino do Português como língua materna ameaçado!” Como já antes sucedera, foi-me devolvida – “Delivery Status Notification (Failure)”. Aliás esta tem sido também a recepção por parte do Sindicato dos Professores de Português no Estrangeiro. Tentei ainda uma 2.ª via, que teve o mesmo sucesso!
Qualquer povo decente rejeitaria, por todos os meios, a situação que nos está a ser imposta com este Acordo Ortográfico de 1990. E convém atentar na data do mesmo já que, segundo os seus defensores, corresponderia à “evolução” e à fonética da nossa língua! Uma evolução “profetizada” há 22 anos, baseada em critérios fonéticos que ignoram o sistema vocálico do português de Portugal, e que nos obriga a retroceder pelo menos a 1943, data do “Formulário Ortográfico” do Brasil (sobretudo no que toca às “ditas” consoantes mudas)! São cada dia mais visíveis os ecos do “prestígio” que esta desfiguração aviltante da nossa língua nos está a trazer fora de portas: vejam, ouçam e leiam os media internacionais! EU TENHO VERGONHA!
Por tudo isto, e porque é para mim mais do que evidente que o “meu” Sindicato não me representa, não podendo portanto continuar a falar em meu nome, venho hoje solicitar que deixem de me considerar sócia.
É possível que esta mensagem me seja devolvida, mais uma vez! Por isso vou enviá-la para vários contactos. E, se necessário, como já em tempos tive de fazer, seguirá também por correio registado, com aviso de recepção.
Os meus cumprimentos,
Lagos, 14 de Março de 2012
Por Maria José Abranches Gonçalves dos Santos
P.S.: Reservo-me o direito de divulgar esta carta pelos meios ao meu alcance.