mercredi 14 décembre 2011

Alguma vez o Primeiro ministro terá razão

Acabo de ler no Económico do dia 4/12/2011 um artigo que transcreve algumas afirmações e considerações do Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho, intitulado: “Crise portuguesa não é culpa de Sarkozy ou Merkel”, que começa dizendo que “Passos Coelho defende um Governo económico europeu e retira culpas a Merkel e Sarkozy no caso português” e que afirmou hoje, no Porto, que a crise portuguesa “não é culpa do senhor Sarkozy ou da senhora Merkel”, apoiando os dois líderes europeus “na defesa de um reforço da liderança económica europeia”.

Passos Coelho acha natural que os países “indisciplinados que colocam em risco outros”, entendam que os mais ricos que emprestam dinheiro exijam garantias. Nada disto me choca. Não me surpreende também que o Primeiro Ministro afirme que em Portugal, quem tem a culpa da crise não é Merkel nem Sarkozy, mas sim quem conduziu Portugal até aqui. Não me admira a lição de moral, ao dizer que “era bom que, aqueles que contribuíram por acção ou omissão para esta dívida e esta ilusão, tivessem a humildade de reconhecer que a culpa do que se está a passar em Portugal não é do senhor Sarkozy, nem da senhora Merkel nem da Europa”. Concluindo que “foi de todos quantos prosseguiram um modelo de desenvolvimento que não era realista nem ajustado nem justo”. Até parece à primeira vista que o Senhor Primeiro Ministro tem razão, falta no entanto clarificar um pouco o seu discurso. Se a culpa é do “modelo de desenvolvimento” também é da Europa e mesmo de muito mais longe, pois o modelo vivido nestes últimos anos, nomeadamente desde 2008, não é Português mas sim universal. Quanto aos líderes da França e da Alemanha, como os outros líderes, têm culpa de: primeiro terem aplicado o modelo que “não era realista, nem ajustado, nem justo”, causador de consequências desastrosas para milhões de Europeus; depois porque desde o início da crise levaram mais que tempo a propor soluções, refiro-me aqui às culpas de Merkel e Sarkozy, os outros têm culpa de não terem feito nada para emendar os erros... Para ficarmos ainda mais esclarecidos gostava de saber a quem se refere o Dr. Passos Coelho quando fala de “quem conduziu Portugal até aqui”. Será do seu predecessor? Ou dos seus predecessores? A segunda hipótese parece-me a boa, pois convém que ninguém esqueça quem governou Portugal de há vinte anos a esta data. Para memória:

Primeiros Ministros:

1985-1995, Dr. Cavaco Silva; 1995- 2001, Dr. Durão Barroso e Dr. Santana Lopes;

Presidente da República:

2006-2011, Dr. Cavaco Silva.

Se atendermos que o melhor período de crescimento, foi no Governo socialista de António Guterres (1995 a 1999) e que na governação Sócrates a situação só se agravou em 2008 com o despoletar da crise mundial. Parece-me que a recomendação da humildade tem de ser muito bem reflectida para evitar o ridículo.
Já não estamos em campanha eleitoral!

In Lusojornal du 14/12/2012, por Aurélio Pinto