Por Isabel A.
António Costa,
instado por José Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo" especial
(SIC Notícias, 08/01/2016), pronuncia-se pela primeira vez sobre o
Acordo Ortográfico na qualidade de primeiro-ministro: «Não faz sentido
mexer no Acordo Ortográfico. Eu, por mim, não teria tomado a iniciativa
de fazer o acordo, mas não tomo a iniciativa de o desfazer.» (Tradutores
Contra o AO/90)
Exmo. Senhor Primeiro-ministro de Portugal,
Não posso ficar calada perante o que na passada sexta-feira ouvi Vossa
Excelência dizer na “Quadratura do Círculo”, quando confrontado com a
monumental cacetada que José Pacheco Pereira, falando por milhares de
portugueses, deu ao AO/90.
Confesso que esperava outra resposta
de alguém que não poupou meios para chegar ao poder, em nome da mudança
que queria para Portugal, tendo como palavras de ordem: rever, revogar e
reverter as medidas tomadas pelo anterior governo, que Vossa Excelência
tanto criticou e quis, porque quis, substituir.
Pasmei com a resposta que deu à pergunta de José Pacheco Pereira.
Primeiro, porque me pareceu bastante superficial, e deu a entender que
percebe tanto do AO/90, como eu de Física Quântica, ou seja, nada,
deixando o seu eleitorado muito, muito desiludido, pelo que consegui
apurar.
Segundo, porque ficou muito mal a um Primeiro-ministro o
facto de estar-se completamente nas tintas para um assunto de suma
importância para Portugal e para os Portugueses, e que atinge a
identidade nacional, dado tratar-se da venda da Língua Portuguesa a um
país com cerca de 15 milhões de analfabetos adultos (fora os outros) à
revelia dos restantes países lusófonos, que se recusam a aplicar esta
mixórdia linguística, que dá pelo nome de Acordo Ortográfico de 1990 (no
que se mostram muito mais inteligentes do que Portugal), aligeirando os
argumentos que levaram àquela resposta indigna de um Primeiro-ministro:
«Eu, por mim, não teria tomado a iniciativa de fazer o acordo, mas não
tomo a iniciativa de o desfazer».
Isto demonstra a atitude de um
senhor feudal, que tem milhares de pessoas à porta do seu castelo a
pedir clemência para uma bela dama de alta linhagem que foi condenada ao
degredo, porque um outro senhor feudal, que prometeu alargar os
domínios do primeiro, por mero capricho, assim o quis. Contudo, o
todo-poderoso senhor feudal faz ouvidos moucos ao clamor dessa multidão e
manda os seus lacaios executar a pena: envie-se a bela dama para o
degredo.
Foi exactamente assim que me soou aquela resposta,
despida de qualquer sensibilidade pela Língua Portuguesa. Até me pareceu
vislumbrar nela um certo desprezo e cinismo.
E ainda tem a
ousadia de dizer que acha que temos convivido todos bem, e ninguém
deixou de compreender bem… o dito AO/90, quando milhares de pessoas, em
todos os países lusófonos, incluindo Brasil e Portugal (os únicos que
aplicaram ilegalmente o AO/90) têm feito um ruidoso protesto ao redor
desta imposição absurda?
Isto é andar fora da realidade, ou num
faz-de-conta que não sei, não ouço, não vejo, inadequado a um
Primeiro-ministro que pretende distanciar-se dos erros cometidos pelos
seus antecessores.
Então Vossa Excelência vem dizer que no seu
tempo se escrevia Luiz (com Z) e agora é Luís (com S)? Quando quem nasce
Luiz, Baptista, Lourdes, Izabel, Queiroz, deve morrer Luiz, Baptista,
Lourdes, Isabel, Queiroz? Porque neste AO/90, os nomes próprios, são
nomes próprios e não sofrem alterações?
E em que tempo é que se escrevia Luiz com Z? No tempo da avozinha… O senhor ministro será assim tão antigo?
Então Vossa Excelência diz que não faz sentido mexer no AO, e faz
sentido deixar que a sociedade evolua naturalmente na sua aplicação?
Qual sociedade? Que evolução, Senhor Ministro?
Este acordo está a ser ilegalmente imposto nas repartições públicas e
nas escolas portuguesas que por medo ou ignorância o aplicam, estando-se
a enganar as crianças e o povo menos esclarecido.
Este acordo
não faz parte de qualquer evolução linguística. Estão mais do que
provadas as incongruências, o desatino, a desunião e a desordem
ortográfica provocada pelo AO/90, criado unicamente para satisfazer os
interesses económicos de uns tantos editores brasileiros e portugueses.
Quiseram unificar a língua e o resultado foi este: a coexistência (nada
pacífica) do acordês, do brasileirês e da Língua Portuguesa. Uns
escrevem em acordês e brasileirês. Outros escrevem em Língua Portuguesa.
E ainda outros escrevem como calha, porque o ensino da língua está
depauperado. Cá (em Portugal) e lá (no Brasil).
Os documentos
oficiais são uma vergonha. No mesmo texto, ora se se escreve aCtividade
(e muito bem) ora atividade (e muito mal). Os livros para crianças ora
são colecções (e muito bem) ora coleções - devendo ler-se col’ções (e
muito mal).
E sabemos mais. Sabemos que algumas editoras, por
mais absurdo que isto seja, controlam os governantes portugueses. Talvez
por isso (talvez!) a resposta de Vossa Excelência foi como foi.
O
que não faz sentido, senhor primeiro-ministro, é o actual governo andar
a revogar tudo e mais alguma coisa, em nome da mudança pretendida, e
não revogar esta vergonhosa venda da Língua Portuguesa ao Brasil, e que
os Portugueses exigem.
Que democracia será esta?
As novas
gerações não merecem este insulto. Esta afronta. Esta violação ao
direito de aprenderem uma Língua Materna íntegra, e não uma fraude
linguística.
Se Vossa Excelência continuar a insistir nesta
posição de senhor feudal, não terá valido a pena ter derrubado muralhas,
para invadir domínios alheios. Porque outras muralhas se erguerão, e
ficará isolado no seu feudo.
Sendo Português e Primeiro-ministro
de Portugal ficava-lhe bem ter dito que o seu Governo iria pensar no
assunto, e que a revogação do AO/90 poderia ser uma possibilidade. Mas
não disse. Portou-se muito mal.
Ao contrário de Inglaterra, que
não se submeteu à gigante América do Norte, Portugal verga-se ao gigante
Brasil, como um país indigente, sem dignidade, sem orgulho algum na sua
própria História.
Sinto o maior orgulho em ser portuguesa, e
gostaria de ter orgulho num Governo que não rastejasse e defendesse os
verdadeiros interesses de Portugal e dos Portugueses.
Será que ainda não é desta que poderemos vir a orgulhar-nos de um Governo Português que se mova com verticalidade?
Com os meus cumprimentos,
Isabel A. Ferreira.
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