A defesa da possibilidade de os estudantes utilizarem, este ano,
ambas as grafias, nas provas nacionais, é a primeira iniciativa da nova
associação, a Anproport.
A primeira iniciativa da direcção da
Associação Nacional de Professores de Português (Anproport), que este
sábado faz a sua apresentação pública, será reclamar junto do Ministério
da Educação e Ciência (MEC) que seja permitido o uso da grafia de 1945
aos estudantes que este ano fazem exames nacionais de Português. O
presidente, Fernando Nabais, argumenta calendário de aplicação à
avaliação externa do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) foi estabelecido
“na expectativa de que a nova grafia estaria, nesta altura, consolidada,
o que está muito longe de se verificar”.
“A Anproport
não foi criada contra o AO90 nem se afirma contra ele. Mas defende que o
acordo deve ser debatido e avaliado e que, se se concluir que é
prejudicial, deverá revogado”, disse Fernando Nabais, em declarações ao
PÚBLICO. Sublinhava, assim, um dos pontos em que a Anproport se
distingue da Associação de Professores de Português (APP), criada em
1977, cuja actual presidente, Edviges Ferreira, afirmou, recentemente,
que “se o MEC determina que o AO90 é para cumprir, [os professores] só
têm de obedecer”.
Segundo Fernando Nabais, a perspectiva da
nova associação é que “nada passa a ser positivo pelo único facto de
estar legislado. No que respeita à ortografia, em particular, diz, “o
que actualmente se verifica é o caos, que resulta da utilização
simultânea de ambas as grafias e do que não é uma coisa nem outra”. “Não
é invulgar depararmos com palavras que não existem na publicidade, nas
legendas da televisão e até em documentos oficiais”, repara. Considera
que a situação é especialmente grave em relação aos alunos do 12.º ano,
para os quais uma centésima a menos ou a mais pode determinar a entrada
ou não num curso do ensino superior. Isto porque, no limite, os
estudantes podem perder até quatro valores (em 20) devido a erros
ortográficos, sublinha.
Outro dos motivos que Fernando Nabais
aponta para que parte dos docentes da disciplina não se reveja na mais
antiga associação profissional, é a postura daquela face “ao regresso
dos clássicos e à revalorização da história da literatura e da própria
literatura” no novo programa do ensino secundário, que será aplicado
pela primeira vez no próximo ano lectivo.
“Ouvimos a presidente da
APP defender que do programa deviam constar autores mais recentes e
mais próximos da realidade dos alunos, que de contrário passarão a
detestar a disciplina. Já nós consideramos inaceitável que um aluno
possa fazer 12 anos de escolaridade sem saber que D. Dinis ou Fernão
Lopes escreveram uma linha. Quando se toma este tipo de decisões, o
critério não pode ser se os alunos se identificam ou não imediatamente
com as obras”, disse, defendendo “o rigor e a exigência”.
Contactada
pelo PÚBLICO, a presidente da APP, Edviges Ferreira, assegurou que a
direcção da associação se fará representar na apresentação pública da
Anproport, marcada para as 11h deste sábado na Biblioteca da Escola
Secundária Pedro Nunes, em Lisboa. “Na medida em que tem nos seus órgãos
sociais os autores das metas e dos novos programas de Português, é
muito natural que as pessoas que integram a nova associação não se
revejam nas posições da APP, que os tem contestado publicamente. Mas
isso não tem mal nenhum, tornará o debate mais interessante, pelo que
fazemos questão de estar presentes e de desejar as maiores felicidades
aos nossos colegas”, afirmou.
Quanto ao AO90, Edviges Ferreira
esclareceu que “a APP nunca tomou uma posição favorável ou desfavorável”
por entre os seus associados “não existir unanimidade em relação ao
assunto”. Segundo diz, “existindo professores de Português que concordam
com a aplicação do AO90 e outros que discordam”, “a única posição
possível da associação é colocar isso em segundo plano e proteger
alunos, cumprindo a lei e os despachos que determinam que este ano o
AO90 é aplicado na avaliação externa”.
Em relação ao programa do
secundário, Edviges Ferreira recordou o parecer da APP feito na altura
da sua apresentação. Nessa ocasião, a presidente da APP criticou o
elevado número de obras literárias incluído no programa, o facto de
aquele ser excessivamente extenso e prescritivo (com a indicação de
capítulos específicos de cada obra e até de excertos e de poemas) e a
sua alegada desadequação, por exemplo, a alunos do 10.º de escolaridade,
“um ano crítico, marcado por altos níveis de insucesso, por
corresponder a uma fase de transição e por as turmas serem muito
heterogéneas”.
A APP já se manifestoum também contra o novo
programa de Português e Metas Curriculares para o Ensino Básico, cuja
consulta pública terminou esta sexta-feira. Defendeu, em concreto, a sua
não homoligação, por considerar que o documento "tem erros educativos e
científicos". A Anproport não emitiu qualquer parecer sobre esse ou
outros assuntos, disse Fernando Nabais, que adiantou que essas serão
tarefas para desenvolver nos próximos meses.
, 17/04/2015